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Indústria brasileira de reciclagem de PET enfrenta baixas margens de lucro e oferta insuficiente

2024-08-28
À medida que o mercado brasileiro de tereftalato de polietileno (PET) reciclado enfrenta a escassez de matéria-prima, os preços dos fardos de PET pós-consumo estão subindo. Isso ocorre em um cenário de importações competitivas de resina pet virgem do Sudeste Asiático, o que comprime a margem entre flocos e fardos de PET e representa um grande desafio para a viabilidade financeira dos recicladores.

Tendências de preços e problemas de oferta

Em 22 de agosto, a Platts avaliou os fardos de garrafas PET transparentes pós-consumo a R$ 5,20/kg DDP São Paulo, um aumento de R$ 0,70/kg desde 12 de agosto. Os flocos de PET transparentes reciclados foram avaliados a R$ 7,50/kg DDP São Paulo, refletindo um aumento de R$ 0,50/kg desde 12 de agosto, destacando a pressão sobre as margens dos recicladores.


Impacto da baixa oferta nas margens

A crescente conscientização do consumidor e a evolução das regulamentações estão pressionando os proprietários de marcas e as empresas de bens de consumo em rápido crescimento a aumentar o conteúdo pós-consumo em suas embalagens. No entanto, a coleta de sucata não acompanhou a demanda dos recicladores. Além disso, outras aplicações para resina pós-consumo estão impulsionando a demanda constante e o aumento dos preços da sucata.


A competição por fardos de garrafas PET pós-consumo se intensificou desde o início de 2024, elevando os preços. A escassez de oferta se tornou tão grave que até mesmo o material de cor verde, que antes era vendido com desconto de cerca de 20%, agora está sendo negociado em paridade com o material transparente.


A Platts avaliou pela última vez fardos de garrafas PET verdes pós-consumo a R$ 5,20/kg DDP São Paulo em 21 de agosto, enquanto flocos de PET verde reciclado a R$ 7,50/kg DDP São Paulo. Um reciclador observou que, para garantir materiais e atender às necessidades dos clientes, seu foco mudou da negociação de preços para a garantia da aquisição de materiais em tempo hábil.


Um vendedor de fardos indicou que as margens não melhoraram com o aumento dos preços, visto que o custo da sucata também está aumentando. Os recicladores muitas vezes não conseguem repassar os aumentos de preços aos flocos de PET imediatamente, pois os preços são baseados nos preços da matéria-prima do mês anterior, e o material compete com a resina PET virgem.


Dinâmica atual da indústria

Em meio a margens fracas, diversas empresas menores de reciclagem fecharam as portas, enquanto empresas maiores consolidaram suas posições. Alguns recicladores estão recorrendo à importação de flocos de PET sujos, limpando-os e processando-os, mas os volumes continuam insuficientes.


Atualmente, a indústria brasileira de reciclagem de PET opera com cerca de 70% de sua capacidade instalada total de 500.000 toneladas métricas por ano, indicando baixa utilização da capacidade.


Competitividade com Resina PET Virgem

Apesar do aumento dos custos da matéria-prima, os preços dos flocos de PET downstream são limitados pelo preço da resina PET virgem. Na ausência de exigências para conteúdo reciclado pós-consumo, os compradores frequentemente optam por resina PET virgem mais barata quando os preços dos flocos de PET ultrapassam um determinado limite, tornando os preços da resina PET virgem um fator-chave no mercado de reciclagem.


O Brasil se tornou um importador líquido de resina PET virgem em 2023, com material barato principalmente do Sudeste Asiático. O Brasil importou 71.549 toneladas métricas de resina PET virgem em 2023, principalmente da Malásia, Omã e Vietnã, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior.


Embora problemas logísticos no mercado global de transporte, como ataques a petroleiros no Mar Vermelho, tenham afetado os preços da resina, a resina PET virgem continua competitiva em relação à resina reciclada no Brasil, levando compradores marginais a escolher a opção mais econômica e exercendo pressão descendente sobre os preços dos flocos de PET brasileiros.


Para proteger o mercado brasileiro e fortalecer a produção nacional, a Associação Brasileira da Indústria Química solicitou à Câmara de Comércio Exterior (CeC) o aumento das tarifas de importação de PET de 12,6% para 20%. A decisão sobre o pedido é esperada para o final de agosto ou início de setembro.


Taxas de reciclagem e tendências de mercado

À medida que a demanda por PET pós-consumo no Brasil ultrapassa a de materiais virgens, impulsionada pela crescente conscientização cultural e uma maior valorização por embalagens sustentáveis, os volumes de reciclagem têm mostrado uma melhora notável.


O PET é o plástico mais reciclado do mundo, e as taxas de reciclagem do Brasil estão entre as mais altas do mundo. Em 2021, o Brasil atingiu uma taxa de reciclagem de 56,4% para embalagens PET, segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). A taxa de crescimento anual do volume de PET reciclado de 2016 a 2021 foi de aproximadamente 8%.


Além disso, o aumento de 15,4% no volume de embalagens de PET reciclado entre 2019 e 2021 superou o crescimento de 12,4% no consumo de resina PET virgem no mesmo período. Materiais reciclados foram utilizados em diversas aplicações: 29% para pré-formas ou garrafas, 24% em têxteis, 17% em bobinas e termoformagem, 13% em produtos químicos e 11% em fitas de cintagem.


A participação de pré-formas e garrafas cresceu 24% em 2019, à medida que os proprietários de marcas aumentaram o conteúdo reciclado em suas embalagens para atender às metas de sustentabilidade e aumentar a conscientização do consumidor.


A indústria brasileira de reciclagem de PET enfrenta desafios significativos, e as condições atuais sugerem que é improvável que haja alívio no curto e médio prazo.

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